segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Função da escola pós-moderna

Já comentei sobre o papel que a escola pós-moderna vem realizando. Gostaria de aprofundar um pouco mais dizendo inicialmente da sua função social: o de incluir. Para tanto, é necessário que a escola veja o aluno como um cidadão que carrega uma série de problemas familiares e que estes estarão com ele em sala de aula. É difícil para a escola uma vez que ela não tem toda a equipe de apoio para se fazer psicóloga, mãe, pai, etc. Mas a escola deve lutar para trabalhar sempre no sentido de resgatar este aluno e não deixar a evasão acontecer. Nas nossas discussões de hoje fizemos sugerimos várias ações que o professor poderá realizar como trabalhar músicas que os pais gostam - é este um caminho para incluir a família na própria escola; trabalhar os regionalismos presentes nas famílias/a linguagem de cada uma delas etc.

o professor poderá fazer um trabalho que auxilie a direção a evitar a evasão escolar, ele é um forte aliado!

Encontro com escritores

"A vida é a arte do encontro".



Hoje foi dia do nosso encontro com o escritor André Neves e do ilustrador Jonas Ribeiro. Os dois falaram de como se conheceram, dos trabalhos que fazem juntos e de quanto valorizam a literatura. Falaram da importância da ilustração para a criança. Para o ilustrador, seu forte é a imagem, para ele a palavra vem depois. Achei intereswsante sua confissão porque daí lembrei-me que alguns alunos não gostam de escrever mas amam desenhar. Precisamos enxergar também estes alunos na sala de aula.

também nos sugeriram desvincular o livro da análise, da prova, do texto... Falou da leitura por prazer, pelo simples ato de ler. Tivemos conhecimentos de alguns dos seus livros, dentre eles: Brinquedos , A viagem da saudade, Um bifinho, um salaminho, A cor da fome, etc

Foi uma manhã muito agradável e de muitas sugestões de trabalho com livros literários.

Valorizar o idioma com suas variedades

15/05 - Hoje voltamos a tratar o asssunto das variedades linguísticas, o problema da estigmatização através da língua. O texto Nóis Mudemo, de Fidêncio Bogo nos levou a muitas reflexões. Qual é o nosso papel numa sala de aula? Valorizamos ou desvalorizamos aquele nosso aluno porque simplesmente fala diferente, que não carrega as regras de concordância no seu vocabulário? Deixamos ou não este aluno ser discriminados pelos colegas? Foi um grande momento de nos questionarmos e repensar as nossas atitudes em sala. Cada um de nós fala como sabe e precisa ser respeitado por onde passa. O nosso dever como professores é o de sempre incluir o aluno no meio social e não deixar que seja excluído, pois muitas vezes ele mesmo se exclui por vergonha e timidez. Quero deixar aqui este texto que comentei pois poderá servir para muitos que visitarem o meu blog:

"NÓIS MUDEMO"
Fidêncio Bogo

O ônibus da Transbrasiliana deslizava manso pela Belém-Brasília rumo a Porto Nacional.
Era abril, mês das derradeiras chuvas. No céu, uma luazona enorme pra namorado nenhum botar defeito. Sob o luar generoso, o cerrado verdejante era um presépio, toda poesia e misticismo.Mas minha alma estava profundamente amargurada. O encontro daquela tarde, a visão daquele jovem marcado pelo sofrimento, precocemente envelhecido, a crua recordação de um episódio que parecia tão banal... Tentei dormir. Inútil. Meus olhos percorriam a paisagem enluarada, mas ela nada mais era para mim que o pano de fundo de um drama estúpido e trágico.As aulas tinham começado numa segunda-feira. Escola de periferia, classes heterogêneas, retardatários. Entre eles, uma criança crescida, quase um rapaz.
- Por que você faltou esses dias todos?
- É que nóis mudemo onti, fessora. Nóis veio da fazenda. Risadinhas da turma.
- Não se diz "nóis mudemo", menino! A gente deve dizer: nós mudamos, tá?
-Tá, fessora!'No recreio, as chacotas dos colegas: Oi, nóis mudemo! Até amanhã, nóis mudemo!

No dia seguinte, a mesma coisa: risadinhas, cochichos, gozações.
- Pai, não vô mais pra escola!
- Oxente! Módi quê?Ouvida a história, o pai coçou a cabeça e disse:
- Meu fio, num deixa a escola por uma bobagem dessa! Não liga pras gozações da mininada! Logo eles esquece.Não esqueceram.Na quarta-feira, dei pela falta do menino. Ele não apareceu no resto da semana, nem na segunda-feira seguinte. Aí me dei conta de que eu nem sabia o nome dele. Procurei no diário de classe e soube que se chamava Lúcio
- Lúcio Rodrigues Barbosa. Achei o endereço. Longe, um dos últimos casebres do bairro. Fui lá, uma tarde. O rapazola tinha partido no dia anterior para a casa de um tio, no sul do Pará.
- É, professora, meu fio não aguentou as gozação da mininada. Eu tentei fazê ele continua, mas não teve jeito. Ele tava chatiado demais. Bosta de vida! Eu devia di té ficado na fazenda côa famia. Na cidade nóis não tem veis. Nóis fala tudo errado.
Inexperiente, confusa, sem saber o que dizer, engoli em seco e me despedi.O episódio ocorrera há dezessete anos e tinha caído em total esquecimento, ao menos de minha parte.Uma tarde, num povoado à beira da Belém-Brasília, eu ia pegar o ônibus, quando alguém me chamou. Olhei e vi, acenando para mim, um rapaz pobremente vestido, magro, com aparência doentia.
- O que é, moço?
- A senhora não se lembra de mim, fessora?Olhei para ele, dei tratos à bola. Reconstituí num momento meus longos anos de sacerdócio, digo, de magistério. Tudo escuro.
- Não me lembro não, moço. Você me conhece? De onde? Foi meu aluno? Como se chama?Para tantas perguntas, uma resposta lacônica:
- Eu sou "Nóis mudemo”, lembra?Comecei a tremer.
- Sim, moço. Agora lembro, Como era mesmo seu nome?
- Lúcio
- Lúcio Rodrigues Barbosa.
- O que aconteceu com você?
- O que aconteceu ? Ah! fessora! É mais fácil dizê o que não aconteceu . Comi o pão que o diabo amasso. E êta diabo bom de padaria! Fui garimpeiro, fui bóia fria, um "gato" me arrecadou e levou num caminhão pruma fazenda no meio da mata. Lá trabaiei como escravo, passei fome, fui baleado quando consegui fugi. Peguei tudo quanto é doença. Até na cadeia já fui para. Nóis ignorante às veis fais coisa sem querê fazé. A escola fais uma farta danada. Eu não devia de té saído daquele jeito, fessora, mas não aguentei as gozação da turma. Eu vi logo que nunca ia consegui fala direito. Ainda hoje não sei.
- Meu Deus!Aquela revelação me virou pelo avesso. Foi demais para mim. Descontrolada comecei a soluçar convulsivamente. Como eu podia ter sido tão burra e má? E abracei o rapaz, o que restava do rapaz, que me olhava atarantado.O ônibus buzinou com insistência.
- O rapaz afastou-me de si suavemente.
- Chora não, fessora! A senhora não tem curpa.
Como? Eu não tenho culpa? Deus do céu!Entrei no ônibus apinhado. Cem olhos eram cem flechas vingadoras apontadas para mim. O ônibus partiu. Pensei na minha sala de aula. Eu era uma assassina a caminho da guilhotina.Hoje tenho raiva da gramática. Eu mudo, tu mudas, ele muda, nós mudamos, mudamos, mudaamoos, mudaaamooos... Super usada, mal usada, abusada, ela é uma guilhotina dentro da escola. A gramática faz gato e sapato da língua materna - a língua que a criança aprendeu com seus pais e irmãos e colegas- e se torna o terror dos alunos. Em vez de estimular e fazer crescer, comunicando, ela reprime e oprime, cobrando centenas de regrinhas estúpidas para aquela idade.E os lúcios da vida, os milhares de lúcios da periferia e do interior, barrados nas salas de aula: "Não é assim que se diz, menino!" Como se o professor quisesse dizer: "Você está errado! Os seu s pais estão errados! Seus irmãos e amigos e vizinhos estão errados! A certa sou eu! Imite-me! Copie-me! Fale como eu ! Você não seja você! Renegue suas raízes! Diminua-se! Desfigure-se! Fique no seu lugar! Seja uma sombra!" E siga desarmado para o matadouro.

domingo, 23 de novembro de 2008

Variações linguísticas

08/05 - A partir desta data obtivemos várias aulas sobre as variedades linguisticas. Precisamos valorizar o nosso idioma com suas variedades observando aspectos de escrita e oralidade. Não somos iguais, nem falamos iguais, mas falamos e precisamos ser ouvidos. Precisamos nos fazer entender, precisamos saber o momento adequado para cada tipo de linguagem. Na aula de hoje ouvimos o texto Ai se sesse", escrito em linguagem regional. Fizemos um estudo do que é o prpeconceito linguistico, da centralização do qiue é certo e errado na lingua. Vimos que é a avaliação social que atribui prestígio ou estigma às diferentes falas. O preconceito é um tema polêmico travado em torno da linguagem politicamente correta. fizemos o estudo de vários teóricos como Fiorin, Pasquele, Pedro Garcez e Ana Zilles. Tivemos a oportunidade de verificar quanta discriminação existe na escola, dentro da propria sala de aula, por parte dos alunos e outras até mesmo dos professores, que corrigem aleatoriamente um garoto ao fazer uso da linguagem coloquial no nosso meio.

24/04 - Familia pós-moderna

Na aula de hoje ouvimos o texto O Gramático, de Humberto de Campos e pudemos analisar a situação do velho professor de gramática numa sala de aula ainda hoje. Comentamos a respeito do papel da família em duas épocas distintas, a turma foi dividida em dois grupos: a favor e contra a atuação da familia na vida escolar dos filhos. Foi um assunto bastante polêmico e que gerou muita discussão de todos envolvidos.

Tivemos também um momento de leitura quando a professora Tamar aplicou a técnica dos três olhares para a leitura: primeiro olhar - o da formatação do texto - o texto atende ao formato exigido? segundo olhar - o aluno aprofundou em seu texto? as idéias estão conectadas?houve argumentação das idéias expostas, dentro do gênero solicitado?; terceiro olhar - o olhar da parte gramatical; repetiu palavras? a pontuação está adequada? flexiona os verbos? o uso dos pronomes está correto?

Conseguimos fazer uma análise bastante produtiva a partir dos textos de nossos alunos , levados para sala. Verificamos que muitas vezes nos fixávamos apenas na parte ortográfica,fixávamos, porque a partir de agora sabemos que com a técnica dos três olhares a correção é muito mais abrangente e é a que realmente mostra ao aluno onde ele pode melhorar.

17/04 - A oralidade

No momento da leitura compartilhada ouvimos a leitura do texto Lixo, de Érico Veríssimo. Cada dia mais vou reconhecendo a importância que há em se trabalhar a oralidade na sala de aula.

Dar ao aluno a oportunidade de manifestar as suas opiniões, expressar as suas idéias. Não só através da palavra o professor poderá conhecer o seu aluno. Gestos, olhares, comportamentos, tudo fala, tudo é comunicação, por isso é necesssário que o professor proporcione esse espaço de interação.

"É um homem falando que encontramos no mundo, um homem falando a outro homem, e a linguagem ensina a própria definição de homem." (È.Benveniste)

O que é trabalhar a língua?

Um texto nada mais é que a expansão da viritualidade de um sistema de signo.

Segundo Berlo(1991), " existe uma relação de interdependência na interação, onde cada agente depende do outro, isto é, cada qual influencia o outro, isto é interação."

A nossa cultura é que vai definir a nossa linguagem.

Dinâmicas de interação


LETRAMENTO
Josué Geraldo Botura do Carmo
Novembro/2001

Segundo Magda Soares, a palavra letramento começa a ser usada a partir do momento em que o conceito de alfabetização tornou-se insatisfatório. Não basta mais saber ler e escrever tão somente, é preciso saber fazer uso da leitura e da escrita. A partir do momento em que as sociedades tornaram-se cada vez mais centradas na escrita e multiplicam-se as demandas por práticas de leitura e de escrita não só na cultura do papel, mas também na nova cultura da tela com os meios eletrônicos, é insuficiente ser apenas alfabetizado.
Segundo Magda no início da década de 90 começaram a ser criados no Brasil, em vários estados, o sistema de ciclos básicos de alfabetização. E em 1996 a LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação) propõe a organização por ciclos no ensino isso significa que “o sistema de ensino e as escolas passam a reconhecer que a alfabetização, entendida apenas como a aprendizagem da mecânica do ler e do escrever e que se pretendia que fosse feito em um ano de escolaridade, nas chamadas classes de alfabetização, é insuficiente”. A criança além de aprender a ler e escrever deve dominar as práticas sociais de leitura e escrita. As novas propostas metodológicas também, de hoje, sugerem que se leve a criança a conviver, experimentar e dominar as práticas de leitura e de escrita que circulam na sociedade.
Magda vai definir letramento como sendo o estado em que vive o indivíduo que sabe ler e escrever e exerce as práticas sociais de leitura e escrita que circulam na sociedade em que vive: ler jornais, revistas, livros, saber ler e interpretar tabelas, quadros, formulários, sua carteira de trabalho, suas contas de água, luz, telefone, saber escrever e escrever cartas, bilhetes, telegramas sem dificuldade, saber preencher um formulário, redigir um ofício, um requerimento, etc. A alfabetização e o letramento se somam, são complementos. Enquanto que “alfabetizar significa orientar a criança para o domínio da tecnologia da escrita, letrar significa levá-la ao exercício das práticas sociais de leitura e de escrita”. O importante é criar hábitos e desenvolver habilidades, sentir prazer de ler e escrever diferentes gêneros de textos. O letramento é um processo que se estende por toda a vida. E em todas as áreas de conhecimento e em todas as disciplinas aprendemos através de práticas de leitura e de escrita. Letrar é função e obrigação de todos os professores, mesmo porque cada área do conhecimento tem uma linguagem específica tanto no campo da informação, dos conceitos e dos princípios.
Para Magda o professor precisa em primeiro lugar ser letrado em sua área de conhecimento: dominar a produção escrita de sua área, as ferramentas de busca em sua área, e ser um bom leitor e um bom produtor de textos na sua área. E que seja capaz de letrar seus alunos, que conheça o processo de letramento, que reconheça as características e peculiaridades dos gêneros de escrita próprios de sua área de conhecimento. Para ela os cursos de formação de professores deveriam centrar seus esforços na formação de bons leitores e bons produtores de texto, e na formação de indivíduos capazes de formar bons leitores e bons produtores de textos.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
Entrevista com Magda Becker Soares.
Jornal do Brasil - 26/11/2000
Entrevista por ELIANE BARDANACHVILI



Dinâmica: completude

Eu sou um pão sem manteiga... eu sou a manteiga do seu pão.

Eu sou uma calça sem zíper... eu sou o zíper da su calça.

Eu sou uma camisa sem botão... eu sou o botão da sua camisa.


Esta é uma ótima dinâmica de interação entre os alunos. Como os alunos vão exercitar a oralidade, podemos observar o uso que alguns fazem da sua linguagem. Empregam a variedade padrão? Coloquial? Tem marcas regionais? Começamos po nosso estudo dos conceitos de alfabetização e letramento. A alfabetização não se limita às séries iniciais, cada vez que descobrimos o significado de uma palavra , ou o registro desta palavra estamos sendo alfabetizados. Mas e o letramento? O que significa? Não é o mesmo que ser alfabetizado? Não. Este termo é muito novo, começou a ser estudado de duas décadas para cá. O letramento é o que faz toda a diferença. Quando fiz faculdade este termo não havia sido criado, portanto tal estudo é novo para mim . O letramento é a prática social que fazemos de algo, é a leitura.

Primeira aula

A moça tecelã



Acordava ainda no escuro, como se ouvisse o sol chegando atrás das beiradas da noite. E logo sentava-se ao tear.Linha clara, para começar o dia. Delicado traço cor da luz, que ela ia passando entre os fios estendidos, enquanto lá fora a claridade da manhã desenhava o horizonte. Depois lãs mais vivas, quentes lãs iam tecendo hora a hora, em longo tapete que nunca acabava. Se era forte demais o sol, e no jardim pendiam as pétalas, a moça colocava na lançadeira grossos fios cinzentos do algodão mais felpudo. Em breve, na penumbra trazida pelas nuvens, escolhia um fio de prata, que em pontos longos rebordava sobre o tecido. Leve, a chuva vinha cumprimentá-la à janela. Mas se durante muitos dias o vento e o frio brigavam com as folhas e espantavam os pássaros, bastava a moça tecer com seus belos fios dourados, para que o sol voltasse a acalmar a natureza. Assim, jogando a lançadeira de um lado para outro e batendo os grandes pentes do tear para frente e para trás, a moça passava os seus dias. Nada lhe faltava. Na hora da fome tecia um lindo peixe, com cuidado de escamas. E eis que o peixe estava na mesa, pronto para ser comido. Se sede vinha, suave era a lã cor de leite que entremeava o tapete. E à noite, depois de lançar seu fio de escuridão, dormia tranqüila.Mas tecendo e tecendo, ela própria trouxe o tempo em que se sentiu sozinha , e pela primeira vez pensou em como seria bom ter um marido ao lado. Não esperou o dia seguinte. Com capricho de quem tenta uma coisa nunca conhecida, começou a entremear no tapete as lãs e as cores que lhe dariam companhia. E aos poucos seu desejo foi aparecendo, chapéu emplumado, rosto barbado, corpo aprumado, sapato engraxado. Estava justamente acabando de entremear o último fio da ponto dos sapatos, quando bateram à porta.Nem precisou abrir. O moço meteu a mão na maçaneta, tirou o chapéu de pluma, e foi entrando em sua vida.Aquela noite, deitada no ombro dele, a moça pensou nos lindos filhos que teceria para aumentar ainda mais a sua felicidade. E feliz foi, durante algum tempo.Mas se o homem tinha pensado em filhos, logo os esqueceu. Porque tinha descoberto o poder do tear, em nada mais pensou a não ser nas coisas todas que ele poderia lhe dar.— Uma casa melhor é necessária — disse para a mulher. E parecia justo, agora que eram dois. Exigiu que escolhesse as mais belas lãs cor de tijolo, fios verdes para os batentes, e pressa para a casa acontecer. Mas pronta a casa, já não lhe pareceu suficiente.— Para que ter casa, se podemos ter palácio? — perguntou. Sem querer resposta imediatamente ordenou que fosse de pedra com arremates em prata.Dias e dias, semanas e meses trabalhou a moça tecendo tetos e portas, e pátios e escadas, e salas e poços. A neve caía lá fora, e ela não tinha tempo para chamar o sol. A noite chegava, e ela não tinha tempo para arrematar o dia.Tecia e entristecia, enquanto sem parar batiam os pentes acompanhando o ritmo da lançadeira. Afinal o palácio ficou pronto. E entre tantos cômodos, o marido escolheu para ela e seu tear o mais alto quarto da mais alta torre.— É para que ninguém saiba do tapete — ele disse.E antes de trancar a porta à chave, advertiu: — Faltam as estrebarias. E não se esqueça dos cavalos! Sem descanso tecia a mulher os caprichos do marido, enchendo o palácio de luxos, os cofres de moedas, as salas de criados.Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer.E tecendo, ela própria trouxe o tempo em que sua tristeza lhe pareceu maior que o palácio com todos os seus tesouros. E pela primeira vez pensou em como seria bom estar sozinha de novo. Só esperou anoitecer. Levantou-se enquanto o marido dormia sonhando com novas exigências. E descalça, para não fazer barulho, subiu a longa escada da torre, sentou-se ao tear.Desta vez não precisou escolher linha nenhuma. Segurou a lançadeira ao contrário, e jogando-a veloz de um lado para o outro, começou a desfazer seu tecido.Desteceu os cavalos, as carruagens, as estrebarias, os jardins.Depois desteceu os criados e o palácio e todas as maravilhas que continha.E novamente se viu na sua casa pequena e sorriu para o jardim além da janela.A noite acabava quando o marido estranhando a cama dura, acordou, e, espantado, olhou em volta.Não teve tempo de se levantar. Ela já desfazia o desenho escuro dos sapatos, e ele viu seus pés desaparecendo, sumindo as pernas. Rápido, o nada subiu-lhe pelo corpo, tomou o peito aprumado, o emplumado chapéu.Então, como se ouvisse a chegada do sol, a moça escolheu uma linha clara. E foi passando-a devagar entre os fios, delicado traço de luz, que a manhã repetiu na linha do horizonte.

Marina Colasanti


No dia 03/04 iniciei o curso Alfabetização e Linguagem. Estava muito apreensiva e ao mesmo tempo muito animada pois queria algo de novo. O grupo me pareceu muito alegre e animado, um grupo só de mulheres. As professoras Tamar e Luzia se apresentaram e logo fomos ouvir o texto de Marina Colasanti - A moça tecelã. Tecemos comentários e fizemos uma dinâmica do cordãozinho colocando três momentos que marcaram a nossa trajetória profissional. Foi muito bom pois ainda não havia pensado nestes momentos como marco em minha vida. Pude relatar as impressões de ótimos professores que tivera! Também lemos o texto "Celulares - só faltam dominar o mundo "e tivemos sugestões de atividades de sala de aula. Verificamos o quanto este texto é rico em conteúdo para se refletir sobre o avanço da tecnologia e nos posicionarmos em relação aos seus benefícios/malefícios. Este texto também nos dá suporte para fazer um trabalho interdisciplinar, pois o tema perpassa por várias disciplinas. Foi um momento muito agradável e espero que este curso me seja bastante útil.